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Pe. John Meyendorff – São Pedro e sua “primazia” na Teologia Bizantina

Durante a Idade Média, tanto o Ocidente cristão quanto o Oriente produziram uma abundante literatura sobre São Pedro e sua sucessão. Eles geralmente tiravam do mesmo registro escriturístico e patrístico de textos. No entanto, esses textos, isolados primeiramente vez e depois reagrupados artificialmente por polemistas, só podem recuperar seu significado real se os considerarmos em uma perspectiva histórica e, mais especialmente, no contexto de uma eclesiologia consistente e equilibrada. É esse trabalho de “resourcement” e integração que o pensamento ecumênico enfrenta hoje para alcançar qualquer resultado concreto. Vamos tentar aqui, em um breve estudo dos textos bizantinos sobre São Pedro, descobrir se podemos discernir elementos permanentes de uma eclesiologia na atitude dos bizantinos em relação aos textos do Novo Testamento sobre Pedro, em relação à tradição no ministério específico do “Coryphaeus“, como Pedro é freqüentemente chamado em textos bizantinos, e finalmente em relação à concepção romana de sua sucessão.

Em nosso trabalho, nos limitaremos à literatura medieval subsequente ao cisma entre o Oriente e o Ocidente. À primeira vista, tal período de tempo, quando as posições já estavam claramente definidas, pode parecer desfavorável para o nosso propósito. Não estavam as mentes dos escritores então envolvidos em um conflito estéril? Eles ainda eram capazes de uma interpretação objetiva das Escrituras e da Tradição? Eles realmente contribuíram para uma solução real do problema de Petrino?

Padre Alexander Mileant – EDUCAÇÃO RELIGIOSA DAS CRIANÇAS

Introdução

Todos os aspetos da vida do homem (seja o seu caráter, o senso de responsabilidade, os bons e os maus hábitos, a sua habilidade em enfrentar as dificuldades e o seu grau de religiosidade) são predominantemente determinados pela educação que recebeu na infância. As recordações dessa época alimentam e aquecem o indivíduo nos momentos mais difíceis da sua vida. Ao contrário, as pessoas que não tiveram uma infância feliz não podem preencher a sua vida com nada. Ao encontrarmos estas pessoas — órfãos, que não conheceram o carinho dos pais; enteados e enteadas, com a alma despedaçada em consequência das dificuldades domésticas; filhos ilegítimos, abandonados aos cuidados de estranhos — sentimos que as suas almas foram marcadas por dolorosas feridas. Seguramente, a ausência da educação religiosa na infância faz-se sentir no caráter do indivíduo, pois, no seu conjunto espiritual, percebem-se ruturas notórias. A criança é, extraordinariamente, suscetível às impressões religiosas. Ela envolve-se, instintivamente, em tudo aquilo que divulga a beleza e o sentido do mundo ao seu redor. Retiremos isto da criança e a sua alma acabará num mundo vazio, a satisfazer-se, apenas, com os seus pequenos interesses quotidianos. Algo similar acontece com o corpo: se esta criança viver num ambiente húmido e sombrio, ela crescerá pálida e doentia, sem forças e sem alegria no seu corpo mal desenvolvido. Em ambos os casos, a culpa do seu não-desenvolvimento e das doenças (da alma ou corpo) recai sobre os seus pais.

BATISMO E CRISMA – O início de uma nova vida

Introdução

Nas palavras do Nosso Senhor Jesus Cristo, o princípio da salvação do ser humano está no seu renascimento espiritual: () Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne, é carne, e o que nasceu do Espírito, é espírito” (João 3:5-6). Este nascimento com a água e o Espírito é efetivado no mistério do batismo.

No batismo, o ser humano purifica-se das impurezas do pecado, liberta-se da escravidão das paixões e renasce para uma vida espiritual. O batismo é de tamanha força espiritual que se realiza apenas uma vez, apesar de, após o batismo, a vida do ser humano poder vir a não corresponder a uma elevada vocação cristã. Sob este ponto de vista, o batismo pode se assemelhar a uma lamparina espiritual, acesa pelo Espírito Santo no coração do ser humano. A chama desta lamparina pode ora aumentar, ora diminuir, mas nunca será totalmente extinguida. O nosso objetivo mais importante é aumentar esta chama sagrada a fim de que se transforme numa brilhante labareda.

Neste artigo, tentaremos revelar o significado e a força do mistério do batismo e a sua ligação com o mistério do Crisma, na esperança de que, tendo um conhecimento mais profundo acerca destes santos mistérios, o leitor possa ser induzido a aproveitar-se da grande riqueza espiritual adquirida através do batismo.

O que os Santos Padres nos ensinam a respeito do nosso corpo

INTRODUÇÃO

São Basílio escreveu que “o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, mas a beleza dessa imagem foi desfigurada pelo pecado e a alma arrastada para baixo, para os desejos passionais. Deus, que criou o homem, é a verdadeira Vida. Como o homem, porém, perdeu a sua semelhança com Deus, não participa mais nessa vida. Está separado de Deus e não pode gozar a bênção da vida divina. Vamos, então, retornar (…) e adornar-nos com a beleza da imagem de Deus (…) através do aquietamento das paixões (…). Devemos preferir esta ocupação a todas as outras” (Ascetical Discourses). Essa “restauração” do homem é o tema principal de todos os escritos patrísticos.

Muitos homens estão intensamente conscientes de que há algo de errado nas suas vidas. Sentem que deve existir algo melhor, mais elevado do que o que vemos à nossa volta hoje em dia. Uma canção popular recente captura, verdadeiramente, o espírito da nossa civilização. Ao falar da vida, a canção faz a seguinte pergunta: “Isto é tudo o que existe”? A letra dessa canção sugere que bebamos e dancemos numa patética imitação da alegria.

A dor de ter que viver com perguntas não respondidas acerca da vida tornou-se tão intensa, que o homem escapa dessa tristeza ao imaginar que não existe vida após a morte, nem um Deus para amar e servir. Então, se este mundo é tudo o que existe, segue-se a necessidade de se viver tão confortavelmente quanto possível, até que a morte puxe a cortina final e acabe por encerrar este drama infeliz.

São Cipriano de Cartago – SOBRE A UNIDADE DA IGREJA

Esta unidade devemos guardar e exigir com firmeza, especialmente nós, bispos, que na Igreja presidimos, para dar prova de que o episcopado também é um e indiviso. Ninguém engane os irmãos com mentiras, ninguém corrompa a pureza da fé com pérfidos desvios.

Uma só é a ordem episcopal e cada um de nós participa dela completamente. Mas a Igreja também é uma, embora, em seu fecundo crescimento, se vá dilatando numa multidão sempre maior.

Assim muitos são os raios do sol, mas uma só é a luz, muitos os ramos de uma árvore, mas um só é o tronco preso à firme raiz. E quando de uma única nascente emanam diversos riachos, embora corram separados e sejam muitos, graças ao copioso caudal que recebem, todavia, permanecem unidos na fonte comum.

EXORTAÇÃO DE SÃO PACÓMIO ACERCA DO RANCOR DUM MONGE

O venerável Pacómio, nascido em 292 d.C., de uma família pagã, converteu-se ao Cristianismo quando contava com 20 anos de idade, tendo recebido uma educação ascética. Em 320, fundou o seu primeiro mosteiro em Tabenesi, na Tebaida (Alto Egito), dando início ao vida monastica cenobita (comunitária), que perdura até os nossos dias. Morreu em 346, deixando como obras a Regra Monástica (com 194 artigos), diversas exortações aos seus monges e 11 cartas a abades e irmãos religiosos.

Nesta página, apresentaremos uma das suas exortações aos monges, que trata do perigo do rancor. Como é sabido, os primeiros monges isolavam-se no deserto. Com Pacómio, surgiram as primeiras comunidades de monges, as quais se caracterizavam pela partilha total dos bens, pela oração comum, pela observância à mesma Regra, pelo trabalho manual e pela obediência absoluta ao abade.

Agradeço ao nosso tradutor voluntário, José Carlos Romano, pela generosidade em traduzir este texto. Sem a sua valiosa colaboração, este maravilhoso texto não estaria disponível a todos nós. Que Deus o guarde e o proteja!

Exortação pronunciada pelo nosso, mui venerável, Santo Padre Pacómio, o santo arquimandrita, por motivo dum irmão que guardava rancor contra o outro. Nos tempos do abade Ebonh, que havia levado aquele irmão a Tabennesi, [Pacómio] dirigiu-lhe estas palavras, na presença de outros padres anciãos, para a sua grande alegria, na paz de Deus!

Desçam sobre nós as suas santas bênçãos e as de todos os santos! Que todos possamos ser salvos! Ámem.

Pecado não é um problema moral

Muitos leitores nunca ouviram que não existe progresso moral – por isso, não me surpreende que tenham pedido para escrever com mais profundidade sobre o assunto. Começarei focalizando a questão do pecado em si. Se entendermos corretamente a natureza do pecado e seu verdadeiro caráter, a noção de progresso moral será vista com mais clareza. Começarei esclarecendo a diferença entre a noção de moralidade e a compreensão teológica do pecado. Esses são dois mundos muito diferentes. Moralidade (como eu uso a palavra) é um termo amplo que geralmente descreve a adesão (ou falta de adesão) a um conjunto de padrões ou normas de comportamento. Nesse entendimento, todo mundo pratica alguma forma de moralidade. Um ateu pode não acreditar em Deus, mas ainda assim terá um senso internalizado de certo ou errado, bem como um conjunto de expectativas para si mesmo e para os outros. Nunca houve um conjunto universalmente aceito de padrões morais. Pessoas diferentes, culturas diferentes têm uma variedade de compreensões morais e formas de discutir o que significa ser “moral”.

Photios Kontoglou – Diferença entre música eclesiástica e música secular

A música é de dois tipos (como são as outras artes também) — secular ou eclesiástica. Cada um deles foi desenvolvido por diferentes sentimentos e diferentes estados da alma. A música secular expressa sentimentos e desejos mundanos (isto é, carnais). Embora esses sentimentos possam ser muito refinados (românticos, sentimentais, idealistas etc.), eles não deixam de ser carnais. No entanto, muitas pessoas acreditam que esses sentimentos são espirituais. No entanto, sentimentos espirituais são expressos apenas pela música eclesiástica. Somente a música eclesiástica pode expressar verdadeiramente os movimentos secretos do coração, que são completamente diferentes daqueles inspirados e desenvolvidos pela música secular. Isto é, expressa contrição, humildade, sofrimento e pesar piedoso, que, como diz Paulo, “opera o arrependimento para a salvação”. A música eclesiástica também pode evocar sentimentos de louvor, agradecimento e entusiasmo sagrado. A música secular, por outro lado – mesmo a mais pura – expressa emoções carnais, mesmo quando é inspirada por sofrimento e aflição. Esse tipo de sofrimento, Paulo chama de “pesar mundano”, que “opera a morte”.