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Padre Thomas Fitzgerald – A Sagrada Eucaristia

 “Nós não sabíamos se estávamos no céu ou na terra, pois certamente não existe tal esplendor ou beleza em lugar algum na terra. Nós não conseguimos descrever para você; nós só sabemos que Deus habita lá entre homens e que o Serviço deles supera a adoração de outros lugares…”

Na parte final do século décimo, Vladimir, o Príncipe de Kiev enviou emissários a vários centros Cristãos para estudar a forma deles de adoração. Estas são as palavras que os enviados proferiram quando eles reportaram a sua presença na celebração da Eucaristia na Grande Igreja da Santa Sabedoria, em Constantinopla. A experiência profunda expressada pelos enviados Russos tem sido uma partilhada ao longo dos séculos por muitos que testemunharam pela primeira vez a bela e inspiradora Divina Liturgia da Igreja Ortodoxa.

A Sagrada Liturgia é a experiência mais antiga de adoração Cristã, bem como a mais distintiva. Eucaristia vem da palavra Grega que significa Ação de Graças. Num sentido particular, a palavra descreve a forma mais importante da atitude da Igreja para com toda a vida. A origem da Eucaristia é rastreada até á Última Ceia, em que Cristo instruiu os seus discípulos a oferecer pão e vinho em sua memória. A Eucaristia é o elemento mais distintivo da adoração Ortodoxa porque nela a Igreja se reúne para relembrar e celebrar a Vida, Morte, e Ressurreição de Cristo, e assim, participar no mistério da Salvação.

Na Igreja Ortodoxa, a Eucaristia também é conhecida como a Divina Liturgia. A palavra Liturgia significa obra do Povo; esta descrição serve para enfatizar o caráter coletivo da Eucaristia. Quando um Ortodoxo participa na Divina Liturgia, ele não é uma pessoa isolada que vem simplesmente para ouvir um sermão.

Em vez disso, ele vem como um membro da Comunidade de Fé que participa naquilo que é precisamente o propósito da Igreja, que é a Adoração da Santíssima Trindade. Como tal, a Eucaristia é verdadeiramente o centro da vida da Igreja e um principal meio de desenvolvimento espiritual, tanto para o Cristão individual, como para a Igreja como um todo. A Eucaristia não apenas incorpora e expressa a Fé Cristã de forma única, mas também aumenta e aprofunda a nossa Fé na Trindade. Este Sacramento místico é a experiência para a qual todas as outras são direcionadas, e da qual recebem a sua direção.

A Eucaristia, o principal Sacramento e Mistério da Igreja Ortodoxa, não é tanto um texto para ser estudado, mas ao invés uma experiência de Comunhão com o Deus vivo em que oração, melodia, gestos, a criação material, arte e arquitetura entram em plena orquestração. A Eucaristia é uma celebração de Fé que toca não apenas a mente mas também as emoções e os sentidos.

Ao longo dos séculos, Cristãos viram várias dimensões na Eucaristia. Os vários títulos que vieram descrever o Rito testemunham a riqueza do seu significado. A Eucaristia tem sido conhecida como a Oferta Santa, os Santos Mistérios, a Ceia Mística, e a Sagrada Comunhão. A Igreja Ortodoxa reconhece as várias facetas da Eucaristia e sabiamente se recusa a enfatizar demasiado um elemento, em detrimento de outros. Ao assim fazer, a Ortodoxia claramente evitou reduzir a Eucaristia a um simples memorial da Última Ceia que é apenas ocasionalmente observado. Seguindo os ensinamentos tanto da Escritura como da Tradição, a Igreja Ortodoxa acredita que Cristo está verdadeiramente presente com o seu Povo na celebração da Sagrada Eucaristia. Os dons Eucarísticas do pão e vinho tornam-se para nós o seu Corpo e no seu Sangue. Nós afirmamos que estes Santos Dons são transfigurados nos primeiros frutos da Nova Criação em que, finalmente, Deus será “tudo em todos”.

Três Liturgias

Da forma como é celebrada hoje, a Divina Liturgia é um produto de desenvolvimento histórico. O núcleo fundamental da Liturgia data do tempo de Cristo e dos Apóstolos. A isto, orações, hinos, e gestos foram sendo adicionados ao longo dos séculos. A Liturgia atingiu uma estrutura base no século nono.

Existem três formas da Eucaristia presentemente em uso na Igreja Ortodoxa

– A Liturgia de São João Crisóstomo, que é mais frequentemente celebrada.

– A Liturgia de São Basílio o Grande, que é celebrada apenas 10 vezes por ano.

– A Liturgia de São Tiago que é celebrada a 23 de Outubro, o dia da festa do Santo. Enquanto estes Santos não compuseram toda a Liturgia que tem os seus nomes, é provável que eles tenham sido os autores de muitas das orações. A estrutura e elementos básicos das três Liturgias é semelhante, apesar de haver diferenças em alguns hinos e orações.

Além destas Liturgias, existe também a Liturgia (anónima) dos Dons Pré-Santificados. Esta não é verdadeiramente uma Liturgia Eucarística, mas ao invés um Serviço de Vésperas noturno, seguido pela distribuição de Sagrada Comunhão guardada do Domingo anterior. Esta Liturgia é apenas celebrada durante a Quaresma (Pascal), de segunda-feira até sexta-feira, quando a Eucaristia plena não é permitida devido ao seu Espírito de Ressurreição.

A Divina Liturgia é propriamente celebrada apenas uma vez por dia. Este costume serve para enfatizar e manter a união da congregação local. A Eucaristia é sempre o Serviço principal nos Domingos e Dias Santos e pode ser celebrada noutros dias da semana.

No entanto, a Divina Liturgia não é celebrada pelo sacerdócio privadamente, sem a congregação. A Eucaristia é normalmente celebrada de manhã mas, com a bênção do Bispo, pode ser oferecida á noite. A Arquidiocese Ortodoxa Grega encorajou recentemente a celebração da Liturgia na noite após as Vésperas, na Vigília de Festas principais e Dias de Santos.

As Ações da Divina Liturgia

A Divina Liturgia pode ser dividida em duas partes principais: a Liturgia dos Catecúmenos e a Liturgia dos Fiéis, que são precedidas pelo Serviço de Preparação.

Apesar de haver várias interpretações simbólicas da Divina Liturgia, o significado mais fundamental é encontrado nas ações e orações.

O Serviço de Preparação

Antes do início da Liturgia, o padre prepara-se com oração e depois procede em Paramentar-se. Os Paramentos (vestes) expressam o seu Ministério Sacerdotal bem como o seu serviço. Depois, o padre vai para a mesa da Proscomídia que está no lado esquerdo da Mesa do Altar no Santuário. Aí, ele prepara a oferta do pão e vinho para a Liturgia. Idealmente, o pão e o vinho dos quais a oferta é tirada, são preparados pelos membros da congregação. Os elementos são apresentados ao padre antes do Serviço, juntamente com os nomes daquelas pessoas, vivas e falecidas, que serão para ser lembradas durante a Divina Liturgia. A oferta simbolicamente representa toda a Igreja reunida em torno de Cristo, o Cordeiro de Deus.

A Liturgia dos Catecúmenos

A Divina Liturgia começa com a declaração solene: “Bendito é o Reino do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, agora e sempiternamente, e pelos séculos dos séculos.” Com estas palavras somos lembrados que na Divina Liturgia a Igreja torna-se uma manifestação real do Reino de Deus na terra.

Tendo em conta que a primeira parte da Liturgia foi designada para os Catecúmenos, aqueles sendo educados na Fé, tinha uma natureza muito instrutiva. A Eucaristia também tem elementos que estão em comum com outros Serviços. Nós nos juntamos enquanto Cristãos que partilham uma Fé comum na Santíssima Trindade. Nós cantamos e oramos como pessoas unidas em Cristo, que não estão vinculadas por tempo, espaço, ou barreiras sociais.

A Pequena Entrada é a ação central da primeira parte da Liturgia. Toma lugar uma Procissão em que o padre leva o Livro dos Evangelhos do Santuário para a Nave. A Procissão dirige a nossa atenção para a Bíblia e para a presença de Cristo no Evangelho. A entrada leva á lição da Epístola, o Evangelho, e o Sermão.

A Liturgia dos Fiéis

Na Igreja primitiva, apenas aos que eram Batizados e não num estado de pecado era-lhes permitido ficar para a parte mais solene da Liturgia. Com a Grande Entrada a marcar o início desta parte da Liturgia, a oferta de pão e vinho é trazida pelo padre da Mesa de Preparação, através da Nave, e até á Mesa do Altar. Antes que oferta possa proceder, no entanto, somos chamados a amarmo-nos uns aos outros para que possamos perfeitamente confessar a nossa Fé. Na Igreja primitiva, o Beijo da Paz era trocado nesta altura. Após o simbólico beijo de Paz, nós reunimo-nos juntos no ato de professar a nossa Fé através das palavras do Credo.

Só agora podemos devidamente oferecer os nossos dons do pão e do vinho ao Pai, tal como O Nosso Senhor nos indicou a fazer em sua memória. Esta oferta é uma de grande alegria, pois através dela lembramo-nos das poderosas ações de Deus através das quais nós recebemos o presente da Salvação, e especialmente da Vida, Morte, e Ressurreição de Cristo. Nós invocamos o Espírito Santo, para que desça sobre nós e sobre a nossa oferta, pedindo ao Pai que eles se tornem para nós o Corpo e Sangue de Cristo. Através do nosso agradecimento e lembrança, o Espírito Santo revela a presença do Cristo Ressuscitado no meio de nós.

O padre vem do Altar com os Santos Dons, convidando a congregação a aproximar-se com reverência de Deus, com Fé, e com amor.” A nossa partilha nos Dons Eucarísticos não apenas expressa Comunhão uns com os outros, mas também a nossa união com o Pai no seu Reino. Indivíduos aproximam-se dos Santos Dons e recebem o pão Eucarístico e o vinho do cálice comum. O padre distribui os Santos Dons através da colher de Comunhão. Sendo a Sagrada Comunhão uma expressão da nossa Fé, a receção dos Santos Dons está aberta apenas aqueles que são Batizados, Crismados, e membros praticantes da Igreja Ortodoxa.

A Liturgia chega ao fim com oração de ação de graças e a Bênção. Na conclusão da Eucaristia, a congregação aproxima-se para receber uma porção do pão Litúrgico que não foi usado para a oferta.

Original. Tradução em Português: Paulo Ferreira

Publicado emLiturgia e Sacramentos

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