Menu Fechar

Arquimandrita Gabriel Bunge – A Ortodoxia precisa de ordens monásticas? 

Padre Gabriel (Bunge) fala sobre as reformas católicas, a tradição ortodoxa e o objetivo mais importante do monasticismo

– No Catolicismo, há um grande número de ordens monásticas e cada uma delas possui uma certa missão, enquanto na Ortodoxia temos apenas vários votos monásticos ou mosteiros com vários estatutos. Por exemplo, temos monges eruditos, monges administrativos etc. O Reverendíssimo Arquimandrita pensa que seria apropriado para a Igreja Ortodoxa criar ordens monásticas que estivessem envolvidas em diversos tipos de atividades, de modo que os graduados de estabelecimentos religiosos pudessem selecionar áreas específicas para servir a Igreja com base nas suas habilidades ou inclinações?

– O monasticismo não existe para nenhum propósito específico relacionado a este mundo. Para citar um autor anónimo de A História dos Monges Egípcios (século IV), “desde o início, o propósito do monasticismo era seguir Cristo no deserto, cantando hinos e salmos e esperando que o nosso Senhor viesse.” Essa aparente “inutilidade” torna o monasticismo livre de quaisquer serviços dentro da estrutura da Igreja. A Igreja Ortodoxa preservou esse traço original do monasticismo, assim como muitos outros aspetos.

Embora tivesse as mesmas raízes, o monasticismo ocidental evoluiu de maneira totalmente diferente. Canonicamente, há apenas algumas ordens monásticas no catolicismo: os beneditinos com os seus vários ramos (cistercienses, trapistas, camaldulenses etc.) ou os cartuxos, por exemplo. Um grande número de “ordens” religiosas foi formado na Idade Média. Nos tempos modernos, a divisão em “institutos da vida consagrada” continuou. Todas essas formas de “vida consagrada” atendem às várias necessidades da Igreja.

Obviamente, essa diversidade oferece certas vantagens. No entanto, a sua principal desvantagem é que a verdadeira vida monástica fica marginalizada. Estou apenas a repetir as palavras dos abades beneditinos que conheço, os quais lamentam-se de que a hierarquia da igreja dificilmente percebe a existência dos mosteiros. Deve-se notar que a igreja católica é administrada pelo clero secular (que fez o voto de castidade) e esse clero torna-o muito diferente de todas as outras igrejas “orientais” (bizantinas ou pré-calcedónias).

Outra desvantagem é a institucionalização das entidades originalmente criadas para realizar tarefas específicas, como combater a heresia, pregar às pessoas, realizar o trabalho missionário, educar os jovens e cuidar dos doentes e das crianças. Essa é a tendência que facilita a existência continuada de tais instituições, mesmo quando já não são mais necessárias, uma vez que algumas dessas tarefas são agora executadas pelo governo.

Acredito que a Igreja Ortodoxa está bem informada e é por isso que ela não segue o caminho da Igreja Latina, mantendo, firmemente, a integridade da vida monástica! O monasticismo ortodoxo é, de facto, tão multifacetado quanto a vida religiosa ocidental e não há tendência a institucionalizar os seus diversos aspetos, que são, frequentemente, determinados pela história do mosteiro e pelo legado do santo que o fundou. Embora haja um grande número de mosteiros, os monges podem sempre passar de um mosteiro para outro.

Dar-te-ei um exemplo. Um monge pode iniciar a sua vida numa comunidade monástica (cenobium) e depois transferir-se para um skete (como eu próprio fiz). Depois, pode tornar-se um alto oficial da Igreja (um bispo ou mesmo um patriarca) e, no final da sua vida, tornar-se um eremita. Ele pode fazer tudo isso sem deixar uma ordem e unir-se a outra, o que requereria começar do princípio todas as vezes e tornar-se um novato, como acontece na Igreja Católica.

A rutura da vida religiosa nas numerosas “ordens” características do ocidente católico levou a muitas consequências indesejáveis, que acabaram por enfraquecê-lo. Por exemplo, uma vez que toda a ordem religiosa tinha (ou alegava ter) a sua “espiritualidade” específica, os seus monges não podiam sequer estudar nas mesmas universidades e cada ordem tinha que ter a sua própria universidade! Felizmente, após o Concílio Vaticano II, essas regras foram descontinuadas.

É por isso que eu acredito que não devemos imitar as ordens religiosas católicas, não apenas porque elas refletem a eclesiologia católica centralizada (papal!) e globalizada, mas porque tal é impraticável. A eclesiologia ortodoxa é diferente; concentra-se, ainda, nas igrejas locais unidas ao Patriarcado. As ordens católicas foram formadas no ocidente, na Idade Média, porque as igrejas locais não podiam mais integrar movimentos religiosos organizados, cujas atividades estivessem além do objetivo do trabalho realizado pelas dioceses. Por outro lado, as velhas abadias, compostas por verdadeiros monges, não criavam tais problemas porque estavam situadas em determinados locais e eram mantidas pelos seus abades. Roma (o papado) respondeu a esse desafio da maneira usual: subordinou, diretamente a si mesma, essas novas ordens. É assim que Roma lida, também hoje, com os chamados “movimentos”.

A estrutura versátil da Igreja Católica dá-lhe, sem dúvida, um maior grau de mobilidade e liberdade, mas isso ocorre às custas das igrejas locais. Como resultado, uma maior uniformidade é alcançada ao custo de perder-se a original riqueza espiritual da vida monástica. Como mencionado acima, o monasticismo clássico foi marginalizado e quase perdeu a sua conexão com a Igreja, enquanto na Ortodoxia, ele ainda se encontra no coração da Igreja e dos crentes.

É por isso que não há razões para imitar essa evolução claramente ocidental (católica), que os próprios monges ocidentais “clássicos” descrevem como uma “emasculação” (mutilação). Muito mais pode ser dito sobre essa emasculação crescente e as suas perigosas consequências, mas não quero gastar mais o seu tempo.

– Pensa ser importante que os monges com inclinação académica recebam educação religiosa, estudem línguas estrangeiras e frequentem universidades ocidentais?

Esta questão está relacionada a várias outras questões importantes, pelo que eu sei, amplamente discutidas na Igreja Ortodoxa Russa. É por isso que gostaria de expressar a minha opinião com base na minha experiência pessoal, sem afirmar que essa opinião deva ser aplicável a todos e a todas as situações.

Todo o monge, seja aquele que vive modestamente no seu mosteiro ou um oficial da Igreja, deve ter uma boa educação espiritual. Penso que isso é indiscutível. Por “educação espiritual” não me refiro ao ensino superior, mas a uma iniciação séria na Tradição espiritual da Igreja Ortodoxa. Caso contrário, como ele poderá superar as muitas tentações espalhadas por satanás? Se os monges trabalhassem, apenas fisicamente, nos seus mosteiros ou, intelectualmente, nos escritórios da igreja, as suas vidas seriam improdutivas e inúteis.

No que diz respeito ao estudo de línguas estrangeiras, acredito que seja útil para aqueles que desejam desenvolver relações com outras Igrejas ortodoxas, teólogos ou pessoas de países não ortodoxos. Isso inclui os missionários ou padres que estão a trabalhar na diáspora. Pessoalmente, aprendi apenas as línguas que precisava para estudar textos antigos ou viver em outros países, primeiramente na Bélgica, depois na parte italiana da Suíça.

A questão de frequentar as universidades ocidentais é importante apenas para um pequeno grupo de “escolares monásticos”. Mais uma vez, recomendaria essa educação apenas àqueles que já se formaram em universidades ortodoxas. Seria bom para os monges cuja fé já é forte, quando eles decidem que precisam dum conhecimento mais profundo em assuntos específicos. No mundo moderno e globalizado, a Ortodoxia deve saber o que os “outros” estão a pensar.

Atualmente, as pessoas viajam muito e conhecem os cristãos de outras denominações, tanto nos próprios seus países como no estrangeiro. Por essa razão, é útil estar bem informado sobre o seu modo de pensar, para que possamos fornecer explicações razoáveis quando nos perguntarem sobre a nossa fé. Por causa da profunda crise das comunidades cristãs ocidentais, os crentes estão a tornar-se cada vez mais interessados na fé ortodoxa. Para poder responder às suas perguntas, precisamos saber as razões dessa crise de identidade, possivelmente fatal.

– Pensa que o diálogo entre a Igreja Ortodoxa e o Catolicismo deve se desenvolver para restaurar a unidade? Na sua opinião, a unidade pode ser alcançada num futuro próximo?

– O cisma entre o Oriente Ortodoxo e o Ocidente Católico (do ponto de vista denominacional, os termos “ortodoxo” e “católico” foram introduzidos há relativamente pouco tempo!) é uma questão muito complexa, porque não aconteceu espontaneamente, como resultado duma certa heresia. Pelo contrário, ele desenvolveu-se muito lentamente no decurso dos séculos e em vários níveis da vida da Igreja. Além disso, ocorreu de tal forma que, muitas vezes, as pessoas nem percebiam que a unidade tinha sido rompida muito antes da separação formal. É apenas por meio do nosso pensamento habitual que acreditamos, retrospetivamente, que os eventos de 1054 desempenharam um papel importante na separação das duas Igrejas.

Todo o mundo provavelmente conheça as principais razões do desacordo, como a adição do Filioque ou o papado romano. Durante muito tempo, a pneumatologia latina, que desde o início era muito diferente da pneumatologia grega, não levou à rutura da unidade entre Oriente e Ocidente porque este conseguia explicar de que maneira poder-se-ia dizer que o Espírito também veio do Filho. Por exemplo, no sétimo século, São Máximo, o Confessor, um grego, explicou, em nome do papa Theodore, também grego, em que sentido os latinos afirmavam que o Espírito Santo vinha, também, do Filho.

Anastácio, o Bibliotecário (de Roma) acreditava que, “de certa forma, o Espírito também vem do Filho, mas Ele não vai numa direção diferente”, apesar de contradizer o Papa Nicolau e o Patriarca Fócio. Noutras palavras, a nível da economia soa como um “sim”, mas a nível teológico Ele não vem do Filho. O Filioque tornou-se a razão para o cisma apenas em 1014, quando a Igreja Romana, sob pressão do Imperador Henrique II, introduziu o Credo na Divina Liturgia, rejeitando, assim, a antiga versão latina do Credo que foi aprovada pelo Concílio de Calcedónia (451) e substituindo-o pela versão de Paulino I, Patriarca de Aquileia, aprovada na época de Carlos Magno e utilizada pelos francos por dois séculos.

Essa nova versão, muito elegante e, ao contrário da versão antiga, até lida com uma voz cantada, ainda é usada pela Igreja Católica. Foi assim que o Filioque apareceu na oração que foi introduzida por Roma no Credo, embora através duma porta dos fundos! Foi assim que o “filioquismo” dos latinos tornou-se um dogma e, portanto, uma razão para o cisma.

Até que Roma remova o Filioque adicionado, o qual o papa Leão III (século IX) continuou a declarar absolutamente ilegal, todas as tentativas de restaurar a unidade completa entre o Oriente e o Ocidente estarão condenadas. Considerando que é improvável que Roma concorde em remover o Filioque, a única saída que vejo é o retorno à antiga versão latina, que é idêntica ao texto original grego e reconhecida por Roma. Esse foi o texto usado em Roma desde o século V até o início do século IX; isto é, por quase meio milénio.

A questão do papado romano é, também, antiga e complexa! Ela remonta aos primeiros séculos do Cristianismo e, curiosamente, os gregos não entenderam imediatamente ter sido este o motivo do cisma. Por um lado, o ensinamento tipicamente romano sobre o papel dum bispo na Igreja universal estava a desenvolver-se lenta e gradualmente. Por outro lado, as Igrejas Orientais não entenderam, de imediato, as verdadeiras consequências eclesiológicas desta doutrina, que permanece absolutamente inaceitável para os ortodoxos. Os gregos, por exemplo, precisaram de dois séculos para entender o impacto real da reforma gregoriana!

Essas duas questões em disputa foram revisadas durante as discussões bilaterais. No entanto, tenho pouca esperança de que um acordo possa ser alcançado, porque o papado, que também cobre com a sua autoridade “infalível” a questão do Filioque, tornou-se, ao longo dos séculos, o pilar da Igreja Católica. Não se pode sequer pensar em pedir para removê-lo ou substituí-lo por outros elementos auxiliares, como por exemplo, a antiga sinodalidade das Igrejas Ortodoxas. Acredito que o principal objetivo das discussões bilaterais entre a Igreja Ortodoxa e Roma é estabelecer boas relações entre ambas e prover uma ajuda mútua até onde isso seja possível a nível ético, o que é, frequentemente, feito.

Porém, o antagonismo, a nível dogmático, entre o Oriente e o Ocidente não é o único obstáculo que impede a restauração da plena união canónica entre ambas! Há um outro fator, menos conhecido, mas possivelmente mais importante, que afeta todo o  crente. O Papa Bento XVI observou, certa vez, que a Igreja Católica nunca integrou, teologicamente, o Sétimo Concílio Ecuménico sobre as Imagens Sagradas. No entanto, Roma que, na época, era um santuário para os veneradores de ícones, sempre protegeu com bravura a legitimidade de venerar as imagens sagradas, muitas das quais ainda são mantidas na Itália. Contudo, a verdadeira teologia do ícone nunca foi desenvolvida.

Isso significa que o aspeto iconográfico da Liturgia não foi incrementado, ou seja, a Liturgia que celebramos não é um ato puramente humano, mas uma concelebração de pessoas e sacerdotes, na qual os textos litúrgicos e as imagens sagradas dos ícones acentuam, maravilhosamente, este componente principal!

Através dos séculos, uma mentalidade litúrgica e espiritual totalmente diferente foi desenvolvida no Ocidente. Isso acarretou consequências inevitáveis. Já na Idade Média, as iconóstases foram, gradualmente, desaparecendo, as igrejas foram construídas sem nenhuma consideração pela orientação, o cânone iconográfico não era seguido e não havia canto litúrgico antigo. Esses factos são bem conhecidos pelos especialistas em história da liturgia e da arte religiosa.

A reforma litúrgica iniciada pelo Concílio Vaticano II colocou o homem, intencionalmente, no centro. Como resultado, os serviços católicos passaram a ter cada vez menos semelhança com a Liturgia Divina Ortodoxa e tornaram-se cada vez mais parecidos com os serviços das comunidades protestantes. Assim, a secularização no Ocidente levou ao desenvolvimento duma mentalidade litúrgica e espiritual que diferia consideravelmente da mentalidade ortodoxa, a qual é, essencialmente, idêntica à mentalidade da época dos Santos Padres.

Já disse, muitas vezes, que se São João Crisóstomo voltasse e entrasse numa igreja ortodoxa onde a sua Divina Liturgia está a ser celebrada, ele sentir-se-ia, exatamente, no seu lugar. No entanto, se São Gregório, o Grande, voltasse, ele sentir-se-ia pouco à vontade com a missa católica. Até mesmo o papa Pio XII ficaria desconfortável lá! Esse facto demonstra, tragicamente, que estamos a testemunhar não apenas a separação da Tradição, que é corrigível, mas também a interrupção da Tradição, que é permanente.

As consequências dessa evolução intra-ocidental são mais sérias do que os teólogos obcecados por doutrinas e conceitos geralmente pressupõem: o Oriente e o Ocidente tornaram-se incompatíveis, o que é, claramente, percetível ao compararem-se as liturgias. Uma reunificação plena é impossível, não por causa das diferenças (que são essencialmente legítimas), mas por causa da incompatibilidade de tais diferenças. Para a unificação, as diferenças devem ser compatíveis, caso contrário, os seguidores de uma Igreja não poderão assistir às liturgias realizadas nas outras Igrejas. Atualmente, após as reformas de culto iniciadas pelo Concílio Vaticano II, a missa católica é absolutamente incompatível com a Liturgia Divina Ortodoxa. Seguindo a auto-secularização acelerada da Igreja Católica e o seu auto-direcionamento para o protestantismo, essa incompatibilidade está a expandir-se.

Ao considerar o que acima foi exposto, não estou otimista sobre a reunificação “num futuro próximo”, como você perguntou. Além disso, vemos que o tempo está a trabalhar contra nós! Depois do Concílio Vaticano II, houve uma evolução interna na Igreja Católica que não apenas a distanciou das antigas Igrejas Ortodoxas, ainda fortemente ligadas ao legado apostólico, mas, com velocidade crescente, afastou-a da sua identidade de séculos. Os crentes comuns sentem isso, mas não conseguem entender as razões ou tomar medidas preventivas. Por outro lado, na Igreja Ortodoxa, a Divina Liturgia e o monasticismo oferecem um ajuste efetivo que impede tal evolução, como o Papa Bento XVI observou, de forma perspicaz, nos seus dias.

– O Reverendíssimo Arquimandrita mora nos Alpes suíços cercados pelo silêncio absoluto e pelos sons da natureza. Como pode um jovem (ou uma pessoa de qualquer idade), que vive na agitação de uma megalópole e está cercado por muitas tentações, ouvir Deus a chamar-lhe? Qual é a melhor maneira de manter o nosso verdadeiro propósito na vida?

– Para ser exato, moro no sopé dos Alpes, no cantão de Ticino, na Suíça, a dez ou quinze minutos de uma pequena aldeia de cem pessoas. Um caminho íngreme através dum bosque de castanheiras leva ao meu lugar daquela aldeia. As casas do skete são apenas cabanas de aldeia construídas no meio duma pequena abertura. Sou o primeiro homem a morar aqui. De facto, em geral, o silêncio é absoluto, o que facilita, e muito, a concentração da minha mente. Essa foi a razão pela qual mudei-me para cá em 1980. No entanto, seria uma ilusão (um engano espiritual) acreditar que essa distância física das grandes e ruidosas cidades, automaticamente, protegeria os monges de qualquer tentação!

Evágrio Pôntico observou, corretamente, que os leigos são tentados pelos demónios principalmente por meio dos itens materiais do mundo, enquanto os monges que vivem num cenóbio são tentados através de outros monges negligentes e, geralmente, através de conflitos que surgem entre as pessoas. Os eremitas, que, na sua maioria, são livres de ambas as tentações, são tentados pelos demónios – que são os mesmos em toda a parte – através dos “pensamentos”, esses traços indiscerníveis que são deixados nas nossas mentes depois de contatos com a realidade material. Às vezes, os demónios parecem “expostos”, sem máscaras para esconder a sua presença. Evágrio Pôntico estava correto ao dizer que nenhum homem pode ser tão cruel e mau quanto um demónio!

Esse conhecimento é mais fácil de obter na solidão do que no redemoinho da vida mundana. Viver em solidão realmente facilita uma grande clareza de pensamento, mas somente quando os cânones dos santos pais são observados. Isso é mencionado nos textos por eles escritos. Isso também é relevante para a verdadeira fé. Na “vida mundana”, tudo parece mais emaranhado e ambíguo. A agitação da vida cotidiana impede a maioria dos leigos de ver claramente através do caos das suas vidas e compreender as razões dos seus problemas.

É um facto que “nenhum homem é uma ilha”, como observou um autor ocidental. Todos nós constituímos uma Uniforme Igreja Sagrada de Cristo. Como tal, os leigos beneficiam-se das vidas altruístas dos monges que vivem num cenóbio e da sabedoria dos eremitas, enquanto os monges ou os eremitas cenobíticos, por sua vez, não poderiam manter-se sem o generoso apoio dos leigos. Os cristãos ortodoxos que vivem “no mundo” sabem disso muito bem e, pode-se dizer, instintivamente. De facto, o monasticismo ortodoxo está no coração da Igreja. Como cristão ortodoxo, sinto isso todos os dias.

Para superar as aflições, por vezes, muito difíceis, os cristãos ortodoxos procuram, espontaneamente, a ajuda dos monges e eremitas. Não apenas os monges, mas também as pessoas seculares gostam de ler os livros dos santos pais, os quais dão-nos a sabedoria dos anciãos. Contudo, assim como o Espírito Santo é um em muitas hipóstases, a vida espiritual é a mesma para os monges e os leigos – embora, se comparadas, sejam vividas de maneira diferente.

— Pe. Gabriel, muito obrigado por esta conversa interessante. O que o Reverendíssimo Arquimandrita recomendaria para os nossos leitores neste período de jejum?

– Nada de especial! Recomendaria, simplesmente, participar, o quanto possível, das celebrações litúrgicas, preparando-se para a confissão e tomando parte nos Santíssimos Sacramentos, além de reservar algum tempo para ler livros espirituais. Aqui, assim como em qualquer outro lugar, a quantidade não é tão importante quanto a qualidade. É melhor ler algumas páginas atentamente, do que ler um livro inteiro distraidamente.

http://orthochristian.com/
Tradução: skemmata.blogspot.com
Redação final: Gabriela Mota

Publicado emEspiritualidade

Related Posts