Desde a manhã da Ressurreição, os séculos passaram como um relâmpago. Impérios e civilizações inteiras surgiram e desapareceram; revoluções militares, convulsões sociais e políticas mudaram a própria ordem mundial. Mas aquela pequena comunidade de pescadores fundada pelo judeu Jesus, da aldeia de Nazaré, a sua Igreja, permanece de pé até hoje, como um rochedo firme no meio de um mar em contínuo movimento.
E aquele Credo (professado nos primeiros dias por poucas dezenas de pessoas e que hoje move mil milhões de habitantes do nosso Planeta, os quais falam as mais variadas línguas) deu origem a inumeráveis formas de cultura.
Quando o anúncio do Evangelho soprou, como uma suave brisa, no decadente mundo antigo, trouxe a esperança aos degradados e aos desesperados, dando-lhes um novo alento e uma nova vida. O Cristianismo fundiu em si a sabedoria de Atenas e as expectativas do Ocidente ao sonho romano de uma pax universal; condenou os opressores, elevou a mulher a uma dignidade nova, provocou a erradicação da escravidão…
Mais tarde, foi a base da civilização e da cultura dos jovens Estados do Ocidente (aos quais os romanos denominavam “bárbaros”), ao induzir a força bruta a ceder à autoridade moral e espiritual. Aos poucos, o “fermento” cristão tornou-se, na Europa e no Novo Mundo, a fonte de um novo dinamismo que marcou profundamente a cultura destes continentes.
Ao longo da História, a figura de Jesus Cristo atraiu a si pessoas aparentemente bem distintas entre si: dos escravos de Roma a Dante, de Dostoievski aos pastores nómadas africanos. Ele infundiu coragem aos mártires do Coliseu e força aos seus confessores do século XX.
Em cada época, o homem descobriu inesgotáveis meios de criatividade no Novo Testamento e, se os primeiros seguidores de Jesus Cristo eram simples pescadores galileus, dentre os que lhes sucederam, prostraram-se diante da sua Cruz os espíritos mais elevados de todos os povos. A Sua revelação iluminou o pensamento de Agostinho e de Pascal, o amor a Ele fez surgirem os maciços das catedrais levantados pelas mãos do homem, guiou a inspiração de poetas e artistas e suscitou as harmonias de sinfonias e coros. A imagem do Filho do Homem inspirou as obras de Andrey Rublev, de Michelangelo e de Rembrandt. No alvorecer do Terceiro Milénio, o Evangelho, que narra a vida terrena de Cristo, encontra-se traduzido em mil e quinhentas línguas e é lido em todo o mundo.
Mesmo quando muitos cristãos se esqueceram da sua verdadeira índole e a sua traição aos mandamentos do Mestre levantou contra a Igreja uma multidão de inimigos, o Evangelho continuou a agir nas pessoas, às vezes de modo imperceptível e inconsciente, através dos mais sublimes ideais humanos de justiça, fraternidade, liberdade, abnegação, dedicação aos outros, fé na vitória final do bem e no valor da pessoa humana.
Tempestades e vendavais abateram-se sobre a Igreja. O amor ao poder por parte dos seus jerarcas e o ainda vivo paganismo das multidões, as seduções do mundo e o fanatismo ascético, os ataques dos seus inimigos declarados e os pecados dos cristãos, as dissensões e os cismas, tudo isto muitas vezes parecia pôr em risco a própria existência da Igreja. Mas ela resistiu firme, ao superar todas as batalhas e as crises que se sucederam ao longo da sua história.
O mistério dessa resistência está na própria pessoa do seu fundador, O Filho do Homem (o qual, segundo Paulo, “ontem, hoje e pelos séculos é sempre o mesmo)” e nos dons do Espírito, que desce sobre aqueles que Lhe são fiéis.
O intelecto humano almeja a grandeza exterior e prostra-se diante da força visível, mas não isto é o que o Evangelho oferece ao homem. “Nós pregamos um Messias crucificado e isto é um escândalo para os judeus e um absurdo para os gregos”, disse Paulo. O Cristianismo anuncia a todos, como o Salvador, um Deus humilhado, um Deus que Se fez pequeno aos olhos “deste mundo”.
Quem quer que tenha encontrado Jesus Cristo sabe que o homem não é um viajante solitário que a ninguém pode chamar no deserto negro do cosmo, mas um filho de Deus que, com Ele, toma parte na realização dos Seus desígnios eternos. “Aquele que é o Verbo”, que foi feito homem na Terra, revelou aos homens a sua predestinação, consagrou e animou a natureza humana com a semente da imortalidade. Na pessoa de Jesus de Nazaré, o Criador sagrado e inefável aproximou-se de nós, o que enche a nossa vida de alegria, de beleza e de sentido. O “silêncio terrível do nada” não mais existe. Em tudo está a luz de Cristo, o amor do Pai…
Com efeito, não é uma doutrina, nem uma teoria, mas o próprio Cristo que renova continuamente o Cristianismo e o conduz para a eternidade.
Os séculos, que se passaram desde aquela manhã da Ressurreição na Judeia, são apenas o prólogo da plenitude humana e divina da família de todos os homens, o princípio daquilo que Jesus lhes prometeu. A vida nova que o Cristianismo suscitou deu apenas os primeiros e, por vezes, ainda fracos, rebentos. A religião da boa nova é a religião do futuro. Contudo, o Reino de Deus já existe na beleza da criação e está presente onde triunfa o bem entre os homens, nos autênticos discípulos do Mestre, nos santos e nos verdadeiros cristãos, enfim, em todos aqueles que querem segui-Lo até o fim …
Dá também a nós, ó Mestre, a força da Tua fé, a firmeza da Tua esperança e o fogo do Teu amor. E quando, perdidos nos trajetos da vida, pararmos sem saber para onde ir, concede-nos vislumbrar nas trevas o Teu rosto. Em meio ao estridor e à balbúrdia da nossa era tecnológica, tão potente, mas ao mesmo tempo tão pobre e sem força, ensina-nos a distinguir o silêncio da eternidade, e concede-nos reconhecer nele a Tua voz, a fim de que possamos ouvir as Tuas palavras que, ainda hoje, nos devolvem a coragem: “Eu estarei convosco todos os dias até o final do mundo”.
Tradução de monja Rebeca (Pereira)