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O Caminho Ortodoxo

Para nós, cristãos ortodoxos, a vida inicia-se com o Batismo.  É a nossa jornada de fé, na qual o nosso primeiro passo é um salto: para dentro da Pia Batismal! É através do Batismo e do Crisma que os nossos pés são postos no caminho pavimentado pelos Santos, que percorreram essa jornada antes de nós. Como cristãos ortodoxos, carregamos a sua fé e a sua verdade connosco, verdade esta que se nos apresenta sólida, como uma rocha. De qualquer forma, a verdade da Ortodoxia é tão ativa quanto sólida. A verdade que trazemos no nosso interior e que faz surgir dentro de nós uma compulsão por viver de um determinado modo.

O Espírito Santo, por nós recebido, reaviva essa verdade, a qual se transforma, então, num caminho de vida: o caminho ortodoxo. Através dos séculos, nós, os fiéis ortodoxos, aprendemos cinco formas pelas quais o Espírito Santo opera para nos reavivar a verdade, para que estejamos realmente vivos, como Deus o desejou para nós. “(…) Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10). As cinco formas (ou experiências) que compõem o caminho ortodoxo são:

  1. A Conversão (São Tomé crê)

Tomé não viu Cristo quando os outros Apóstolos O viram e, por isso, recusou-se a acreditar que Ele estivesse vivo. Oito dias depois, o Senhor apareceu novamente aos discípulos e disse a Tomé: “(…) Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu” (João 20:27-28).

Ora, o Batismo é o símbolo da conversão. Quando somos imersos na água, nós “morremos” para o pecado que existia nas nossas vidas e, quando dela emergimos, renascemos para uma nova vida. Vivemos então para Deus e para o próximo, assim como Jesus nos ensinou.

Quando cremos, sem qualquer dúvida, que Jesus é o Senhor, desejamos morrer para nós mesmos, com o propósito de poder viver para Ele. A conversão é a experiência de morrermos para nós mesmos, a fim de renascer e viver em dedicação a Jesus Cristo.

Conheces alguém que tenha passado pela experiência da conversão? Muitos cristãos nunca tiveram experiências significativas de conversão e, mesmo assim, crêem no Evangelho do fundo do seu coração. Eles podem lembrar-se com alegria das palavras de Jesus: “(…) bem aventurados os que não viram e creram” (João 20:29).

  1. O Arrependimento (O filho pródigo retorna a casa)

Jesus contou a história de um homem que deixou a sua casa e família para desperdiçar a sua herança numa terra estrangeira. Quando esse filho percebeu que os caminhos que havia escolhido tinham sido errados, retornou ao lar e disse ao seu pai: “(…)  pequei contra o céu e contra ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lucas 15:21). Quando percebemos que nos desviamos do caminho da salvação, sentimo-nos tristes e voltamos a Deus, através do arrependimento (metanoia).

Arrepender-se não é simplesmente dizer “sinto muito”, mas mudar o rumo das nossas vidas, de modo a desviarmo-nos do pecado. O arrependimento é a experiência de retornar ao caminho do qual nos havíamos afastado. O Sacramento da Confissão é o fruto do arrependimento.

3. A Luta (O exemplo de São Paulo)

Quando Saulo encontrava-se nas proximidades de Damasco, a caminho de perseguir os seguidores de Cristo, converteu-se (Atos 9:1-18) e mudou os rumos da sua vida, ao tornar-se Paulo. Desde aquele momento, viveu somente para Deus e conduziu muitas pessoas à salvação. Sabemos, no entanto, que ele enfrentou uma luta muito grande, porque disse: “foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear” (2 Coríntios 12:7). O que nos inspira e ajuda durante a luta? Oração, jejum e entrega espiritual. Estas são as bases do caminho que os fiéis ortodoxos têm trilhado através dos séculos. Lutar é viver a experiência de trilhar o caminho da salvação.

E tu, já passaste pela experiência da “luta”, ao trilhar o caminho da salvação?

  1. A Liturgia (Jesus Cristo oferece a Ceia de Ação de Graças)

No alto de uma montanha, enquanto pregava, Jesus deu-se conta que já se contavam três dias desde que a multidão que o acompanhava tinha-se alimentado. Ao ser informado de que entre eles havia apenas cinco pães e dois peixes, tomou-os, ofereceu o pouco que tinha em ação de graças e partiu os pães, dando tudo aos discípulos, e estes, por sua vez, à multidão. Cinco mil pessoas comeram e doze cestos ficaram abarrotados com as sobras (Mateus 14:13-24).

O que tens oferecido a Deus aos domingos? Tens-Lhe agradecido?

Numa outra ocasião, antes de ser crucificado, Jesus reuniu os seus discípulos num aposento para comer a ceia pascal. Como parte da refeição, tomou o pão e o vinho, deu graças e partilhou-os com os seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto é o Meu Corpo” e “Tomai e bebei, isto é o Meu Sangue” (Mateus 26:26-28). Disse, também, que todos nós deveríamos fazer o mesmo.

Deus desejou fazer a criação, incluindo o pão e o vinho, como um presente para o homem. O papel de Adão era o de dar graças pelo presente de Deus, mas não o fez. Contudo, o Novo Adão, Jesus Cristo, fê-lo. Espera-se de nós que sigamos a liderança de Cristo e rendamos graças a Deus sob todas as circunstâncias.

Quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, que é a palavra grega para “ação de graças”, entregamos a nós próprios, e uns aos outros, e toda a nossa vida a Cristo Deus. Oferecemos o pão e o vinho que se tornarão o Corpo e o Sangue de Cristo. Recebemos a Eucaristia. Nutridos, voltamos ao mundo. A Liturgia é a experiência de dar e receber.

  1. A Sabedoria (Zaqueu busca Jesus Cristo)

Uma vez que fomos feitos à imagem de Deus, em cada um de nós está implantado o desejo de conhecer o nosso Criador. Somos capazes de adquirir conhecimento sobre Deus e sobre a vida que Ele nos concedeu. Quando procuramos Deus e o conhecimento de como alcançar o céu, buscamos a sabedoria.

A sabedoria é a habilidade de ver “a grande imagem” e conhecer o nosso lugar dentro dela. Zaqueu, aquele que trepou a uma árvore para poder ver Jesus, é um bom modelo para aqueles que o buscam (Lucas 19:10), pois, ao ter apenas começado a sua busca por Deus, já O havia, de certo modo, encontrado. Devemos sempre buscar Deus e o Seu Reino. Devemos aprender com todos os acontecimentos da nossa vida e também da vida dos Santos. Cada pessoa, cada evento, através da ajuda do Espírito Santo, pode trazer-nos a sabedoria.

A sabedoria é a experiência do aprendizado constante e do crescimento no caminho ortodoxo: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7:7).

A santificação somente é possível para nós porque o Espírito Santo atua nas nossas vidas por meio da conversão, do arrependimento, da luta, da liturgia e da sabedoria. À medida em que nos empenhamos em alcançar a santificação, os nossos esforços não apenas nos transformam, mas também atingem os outros. Podemos ser instados a oferecer a verdade a um amigo imerso em problemas ou confuso, ou mesmo constatar, ao longo do caminho, que a nossa luta nos encheu de coragem. Uma vida de santidade pode fazer a diferença. “Conquistem o espírito da paz”, dizia São Serafim de Sarov, “e mil almas ao vosso redor serão salvas”.

6. Linha de Vida

Quem é o Espírito Santo? Na Ortodoxia, o Espírito Santo é considerado Aquele que “fortalece”. São Basílio escreveu: ´Que tipo de fortalecimento é este? A perfeição na santificação!” (Sobre o Espírito Santo, Capítulo 16), ou seja, quanto mais cooperamos com o Espírito Santo, mais facilmente poderemos alcançar a santificação. O Espírito Santo é também conhecido como “Aquele que dá a Vida”. É Ele que recebemos no Batismo e no Crisma: a nossa linha de vida para a eternidade.

© IGREJA ORTODOXA ANTIOQUINA – BRASIL
Adaptado para ortodoxia.pt

Publicado emTeologia Ortodoxa

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