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Sentido, disciplina e caminho espiritual
A Quaresma que precede a Natividade do Senhor, conhecida na tradição occidental como Advento, dura 40 dias, de 15 de novembro a 24 de dezembro. Esta prática generalizou-se na Igreja entre os séculos V e VI, quando as comunidades cristãs sentiram a necessidade de preparar o coração para acolher a vinda de Cristo ao mundo. Embora se trate de um jejum importante, ele possui um caráter mais leve do que a Grande Quaresma da Páscoa, refletindo o espírito luminoso e jubiloso da celebração do Natal.
A disciplina alimentar
O jejum ortodoxo combina sempre duas dimensões inseparáveis: a abstenção alimentar e o trabalho espiritual interior. Durante este período, a Igreja propõe um regime vegano, com duas refeições diárias para pessoas com saúde normal e abstinência de carne, laticínios e ovos.
Por causa do sentido festivo da Natividade e da estação mais fria do ano, a Igreja permite certas concessões:
- É permitido comer peixe em todos os sábados e domingos, e nas grandes festas em que se celebra a Divina Liturgia.
- É permitido comer marisco às segundas, terças e quintas-feiras.
- Azeite e vinho são geralmente permitidos, exceto em dias de rigor maior indicados pelos calendários litúrgicos de cada Igreja local.
A partir de 20 de dezembro, quando a Igreja inicia a antefesta da Natividade do Senhor (Pré-Festa), o jejum torna-se mais rigoroso, em sinal de vigilância e de santificação final antes da vinda de Cristo.
Durante este período: não há qualquer permissão para peixe, nem para marisco, nem para vinho ou azeite, mesmo que o dia coincida com sábado ou domingo. É uma etapa de maior sobriedade, que prepara o coração para a luz pura da Natividade.
O sentido teológico da Quaresma da Natividade
A espiritualidade deste período não é marcada pelo lamento, mas pela alegria vigilante que precede o nascimento do Salvador.
A liturgia recorda: a aproximação da Luz divina; a humildade com que Deus entra no mundo; e a necessidade de preparar uma “gruta interior” para O receber.
O jejum é um caminho de purificação, de simplicidade e de esperança, que nos ensina a esperar o Senhor com um coração pacificado e vigilante.
Portanto, a disciplina alimentar é apenas um meio. O essencial é:
- Intensificar a oração pessoal e comunitária, com atenção especial às celebrações da Igreja.
- Aprofundar os textos proféticos e evangélicos que anunciam a vinda do Senhor.
- Exercer a caridade, praticar o perdão, evitar julgamentos e cultivar a bondade.
- É na Igreja que o mistério da Encarnação se torna vivo e transformador.
Conclusão
A Quaresma da Natividade é um itinerário de alegria sobra, um tempo de expectativa sagrada. Não se trata apenas de mudar os alimentos, mas de transformar o coração, preparando-o para acolher Cristo que vem ao mundo por nossa salvação.
Ao jejuarmos, ao orarmos e ao vivermos na comunhão da Igreja, tornamo-nos mais capazes de receber o Menino Cristo com a pureza, a humildade e a luz que Ele próprio nos oferece.